Minha história
como Professor de Ciências do CENEART
Minha história com o CENEART começou em 1962, primeiro ano da emancipação política
da cidade de Osasco.Morava na Lapa, em São Paulo e era Coordenador do Primeiro Núcleo
de Ensino Pré-Vocacional do Estado – 5ª. e 6ª. séries, que funcionava junto ao Grupo
Escolar Rural Alberto Torres, no Butantã. Vários Núcleos destes foram instalados,
depois, em escolas de \Osasco. Nele estudavam vários alunos de Osasco, dentre eles,
dois da Família Camargo, tradicional no Km. 18 : Sérgio e Marcos. Eles me informaram
que uma escola em Osasco precisava de professores. Fui até ela e, em março de 1962,
passei a dar aulas de Ciências no então CEART, que funcionava, no período noturno, no
Grupo Escolar Marechal Bittencourt.
As etapas do Ensino
Naquele tempo, o ensino tinha as seguintes etapas: Primário, à partir dos 7 anos de
idade, com 4 séries; Ginásio, com 4 séries e Colegial, com 3 séries.
GEART – o único ginásio
estadual da região.
Osasco, enquanto bairro abandonado da cidade de São Paulo, tinha vários Grupos
Escolares mas Ginásio, apenas um : o GEART - Ginásio Estadual Antonio Raposo Tavares,
criado em 1950, em prédio do Grupo Escolar Marechal Bittencourt. Transformou-se, em
1952, em CEART – Colégio Estadual Antonio Raposo Tavares, também o único oficial no
então bairro da Capital. Existiam ótimos particulares, como Duque de Caxias e
Misericórdia.
Eram 12 salas de aulas para abrigar alunos do ginasial e do colegial e só no período
noturno.
Osasco vivia seu primeiro ano como cidade e na escola era marcante o sentimento de
orgulho pelo surgimento de uma nova cidade que precisava pensar no seu futuro e nos
seus líderes.Francisco Rossi, Gabriel, Antiório, já despontavam na liderança
estudantil.
Lembro-me de um fato que ocorreu durante uma aula que ministrava: uma agitação na sala
e quis saber o que era: contaram-me que estava passando um abaixo assinado contra o
Prefeito Hirant Sanazar por pretender construir um chafariz em praça de Presidente
Altino. Achei aquilo inusitado, pois, para mim seria um embelezamento na nova cidade.
Já era um movimento para expressar a opinião de moradores.
Maravilhosos professores
Também havia um grupo maravilhoso de professores: Emir Macedo Nogueira, de Português,
jornalista da Folha de São Paulo; Helena Pignatari, de História, professora da USP,
inteligentíssima e de grande influência sobre os alunos pela sua militância ativa nas
lutas por liberdade e direitos; Alcyr Porciúncula, de Desenho, primeiro professor
efetivo da escola; Manoel Carlos, de Desenho; Laura Vivona, de Espanhol; Etelvina
Macedo Nogueira, Teté, de Português; Cynira Vendramel, de Geografia, Ivo Rocha Campos,
Tito Lívio, Iberê, de Educação Física, Amim, de Inglês, Nísia, Denise, Cícero e Aníbal,
de Ciências, Marina Campos, de Canto e seu esposo Carlos, de Português, dentre outros
tantos que forjaram uma geração apta a enfrentar os vestibulares sem cursinho e se
projetar no futuro da cidade como seus lideres em todos os setores da sua atividade.
Alegre convivência
Este primeiro ano foi muito especial pra mim: participar deste grupo magnífico de
professores, procurando captar-lhes toda a inteligência e sabedoria que emanavam e
desfrutar da companhia deles, especialmente quando, nas sextas-feiras, Helena e seu
esposo Kraus nos convidavam para sua casa, linda e confortável no Campesina, para uma
sopa que ele preparava com esmero, outros petiscos, cantar, prosear, contar histórias
e piadas, falar da situação política da nova cidade. No meio do ano, fazia muito frio
e então, quando saíamos da escola, apanhávamos tocos de madeira - da construção das
galerias de águas pluviais em execução na Antonio Agu- para a lareira da casa dos
nossos amáveis anfitriões.
O novo prédio
Em 1963, a escola mudou-se para o novo prédio, o atual, no Largo do Mercado. De 12
salas de aulas, em um período, passou para mais de 30 em cada um de seus 3 períodos.
Era dirigida pelo Diretor Onésimo de Moura Muzel que, em 1964 foi substituído pelo
diretor efetivo Walter Sylvio Dóminas, homem austero, severo, disciplinador, mas
sempre aberto e entusiasta com as boas iniciativas dos professores, o que tornou a
escola um burburinho efervescente de iniciativas e realizações.
O exame de Admissão
No exame de admissão, que havia naquele tempo para ingresso no curso ginasial,
inscreveram-se cerca de 3.000 pessoas, para 300 vagas. Isto representa que a elite
intelectual da cidade e região, passou a estudar nesta escola.
Os melhores alunos
E foi isto que senti nas minhas salas de aulas: alunos interessados, sérios, atentos,
dedicados, esforçados, que davam o melhor de si nos estudos, sempre dispostos a
realizar qualquer tarefa que lhe fossem propostas. Eu os fazia trabalhar em grupos,
preparavam e davam aulas, liam livros e revistas científicas em rodízio, fazendo
resumos, recortando notícias importantes de jornais e revistas para afixá-las nos
quadros murais existentes nas salas, plantavam hortas domésticas em suas casas como
atividade da sala de aula e mostravam as suas produções. Disse que iria visitar as
hortas deles. Visitei algumas, mas ficou difícil ir a todas. Então, marcávamos um dia
para que todos trouxessem às salas, amostras do que tinham colhido. Um caso
interessante: o depois jornalista Tachinha, fez a sua horta, e aguardou a minha ida.
Sempre que o encontrava, mais tarde, reclamava de não ter ido à sua casa, onde era
esperado pela sua mãe. Assistiam filmes científicos, com muito interesse, que trazia
da USP e que costumava projetar aos sábados. Dávamos aulas aos sábados naquela
época.
A escola vibrava E eram
traduzidas em:
- Atividades esportivas
especialmente no vôlei (início em Osasco) e basquete – Com
participações em vários campeonatos estaduais e nacionais e até internacionais
(Paraguai, Uruguai e Argentina). E muitos títulos. E participação sempre vitoriosa
nos Intercolegiais.
- Fanfarra
depois nomeada Laerte Rizzardi, ex-aluno da escola – brilhante nos desfiles na
cidade e no Estado. Várias vezes premiada. Havia uma grande rivalidade entre o CENEART
e as Escolas Duque de Caxias e Colégio Misericórdia, nos desfiles de 7 de Setembro e
nos concursos de fanfarras, comuns naquela época.
- Feiras de Ciências
o grupo de professores de Ciências pensava em fazer uma Exposição de Ciências,
mas eu insisti em fazer uma Feira de Ciências, muito em voga na época. Todos aceitaram
a idéia e participaram ativamente, depois com imensa participação dos estudantes e
cujos melhores trabalhos eram apresentados em São Paulo, na Feira de Ciências do
IBECC, com excelentes premiações. Eram úteis no desenvolvimento da vocação do aluno,
como foi no caso do aluno Sérgio Spel de Oliveira, o Catatau, aluno meu da 5ª. série,
que apresentou um trabalho sobre Santos Dumont (sua história, seus inventos) e
apresentou-se em São Paulo, onde conquistou o primeiro prêmio do IBECC. Isto o levou a
estudar Engenharia Mecânica e depois, empregar-se na Embraer, em São José dos Campos,
onde projetou o trem de pouso do avião Bandeirantes.
A primeira Feira de Ciências foi em outubro de 1964 e a quinta, em 1968, o que quer
dizer que eram anuais.
Todas estas atividades geraram o Clube de Ciências, que tinha sala própria na escola,
cujo primeiro presidente foi João Carlos Celestino.
- Festas juninas e dança
da quadrilha
Eu resolvi “marcar quadrilha” e fui assistir várias delas em São Paulo para
aprender. E comuniquei ao Diretor Walter, Grêmio e alunos este meu desejo. Foi como
pólvora. Em pouco tempo, tínhamos um grupo de interessados, dos quais muitos
continuaram por vários anos. Foi um sucesso. As festas juninas e a quadrilha
constituíram uma atração na escola e na cidade e fomos convidados para apresentações
em outras escolas, clubes de Osasco e Capital, até na televisão. Era tanta a
integração e motivação do grupo, que aconteceu o seguinte: num determinado momento da
quadrilha havia uma briga entre alguns participantes, movida pelo ciúme. Era para ser
rápida. Mas uma vez, a briga generalizou, com rasteiras, alunos caindo ao chão, uma
empurração geral. E não acabava mais. E eu desesperado no microfone, achando que a
briga era real, pedindo com aflição que tudo se acalmasse. Mas só depois de algum
tempo, quando um participante entrou com um carrinho de pedreiro no salão, com apitos
de ambulância, recolheu um caído no chão, houve uma gritaria geral de felicidade e a
dança voltou ao normal. UFA !
Os participantes esmeravam nos trajes, na maquiagem, nos complementos (chapéus, armas,
sapatos abertos como boca de jacaré, com pregos em destaque). Interpretavam com muito
realismo. Era algo muito genuíno, muito alegre e divertido.
- Excursões
Gostava de promover excursões com os alunos. E fomos para Zoológico, Botânico,
Represa do Barro Branco e muitos outros locais. Íamos a teatros. Sempre contando com
o apoio e colaboração do Grêmio Estudantil. E feitas nos fins de semana, sem
atrapalhar as aulas.
- Bailes na escola
Tinha conquistado a confiança do Diretor Walter Dóminas, que até me designou como seu
substituto quando ele não estivesse na escola e, com a colaboração do Grêmio
Estudantil e da Cantina, pudemos realizar bailes no páteo da escola, nos fins de
semana, reunindo a juventude da cidade, sem brigas ou confusões.
- Uso da Escola pela Comunidade
A comunidade usava a escola, nos fins de semana, para atividades as
mais diversas.
- Jornal O Bacamarte
editado pelo Grêmio Estudantil, com emblema criado pelo Prof. Alcyr Porciúncula.
Criação do Curso Normal
Em 1964, a escola foi contemplada com o Curso Normal, agregando novas inteligências e
experiências e preparando uma plêiade de excelentes professores para servir a educação
das crianças.
Graças ao Prof. Milton, excelente professor de Português, foi criado o Jornormal,
para informar e orientar as atividades dos normalistas.
Criação do Curso
Primário Anexo.
Em março de 1965, foi instalado o Curso Primário Anexo, o que permitiu uma prática
didática mais eficiente aos alunos do Curso Normal.
Ginásio Pluricurricular
Primário Anexo.
Em 1967, foi instalado o Ginásio Pluricurricular, com o objetivo de dar uma iniciação
profissionalizante aos alunos e a criação das Salas-Ambientes de cada disciplina,
onde os alunos se movimentavam de sala para sala, conforme sua programação.
Ginásio de
Esportes Coberto
Em outubro de 1968, foi inaugurado o Ginásio de Esportes coberto, construído graças
a colaboração de professores e da Associação de Pais e Mestres, com destaque para a
atuação de seu presidente Vicente Lourenço, um ilustre emancipador , interessado e
dedicado à Escola e à construção da quadra.
Extensões do CENEART
Com o crescimento da demanda escolar e como o CENEART não mais conseguia supri-la,
idealizou-se uma forma que consistia na criação da chamada Extensão. Eram instaladas
nos prédios de Grupos Escolares, no período em que não eram usadas – o noturno – e o
CENEART assumia toda a parte administrativa da mesma. Foram instaladas: em 1965, a
Extensão da Vila Yara ; 1967, a do Marechal Bittencourt; 1968, as de Vila Campesina,
Km. 18 e Quitauna.
Havia uma perfeita interação e integração entre escola-aluno-comunidade.
Havia um ambiente muito alegre, o aluno gostava de ficar na escola; liberdade e muito
respeito. A escola era usada pela comunidade nos fins de semana para atividades as
mais diversas.
Um agradável relacionamento humano que se traduzia em atividades fora da escola, como
festas e bailinhos nas casas de alunos, com a presença de professores.
Em uma delas, presenciei o início do namoro do Diretor Walter Dóminas com sua hoje
esposa Evangelina, também professora da escola. Filhos e netos de Antonio Menk, que
tinham uma chácara no Jardim Baroneza, com piscina, freqüentemente, reuniam
professores e alunos em alegres e agradáveis confraternizações.
Grêmio Estudantil ativo.
O Grêmio Estudantil era ativo e realizador. Teve magníficos presidentes dos quais
consigo lembrar-me de Hélio Bahowiski, que foi também Coordenador da Fanfarra e
Alexandre de Souza. Estavam presentes e atuantes em qualquer atividade que acontecesse
na escola. O Grêmio editava o Jornal O Bacamarte, cujo emblema foi criado pelo Prof.
Alcyr Porciúncula.
Foram “ Anos de ouro” os que vivi no CENEART, que deixei como professor, em 1969, com
o desejo de voltar a ele como seu Diretor efetivo, o que irá realmente acontecer em
1980. Mas esta é uma outra história.
Nélio Wanderley Próspero
Novembro de 2023.
Prof. Nélio |
Texto a seguir do Prof. Nélio Wanderley Próspero
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Passado tanto tempo, .......................
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