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História da Família Viviani





A FAMÍLIA VIVIANI E A FABRICAÇÃO DE PITOS.

Maximiliano Viviani chegou a Osasco no dia 20 de fevereiro de 1895, vindo da cidade de Pisa, na Itália.

Trazia na bagagem a ferramenta de trabalho que sustentaria toda a família que eram os moldes de pito, de madeira, além da técnica para sua fabricação.

Maximiliano e sua esposa, Rosa Dal Oste Viviani, foram residir no bairro do Maneco, onde, com os filhos e netos, desenvolveram um artesanato que viria a ser conhecido em todo o país.

Dedicaram-se a essa atividade, além de Maximiliano e a mulher, três filhos e três filhas.

OS FILHOS DE MAXIMILIANO

Lanchioto Viviani, com a espôsa e os filhos Rosina, Elza, Gino, Américo, Roberto (Gino, o menor, não chegou a trabalhar na produção de pitos);

Eclísio Viviani, com os filhos José, Renato, Nelo, Alfredo e Mário;

e Gino Viviani, que contribuiu menos, mesmo porque suas duas filhas não trabalharam com a família.

As filhas de Maximiliano eram: Élide Viviani, Amélia Viviani e Dósola Viviani.

Além dos membros da família, somente trabalharam na fabricação de pitos dois jovens de fora: Atílio Fabri e João Recke, que ajudaram durante certo tempo.

O PROCESSO DA FABRICAÇÃO DE PITOS.

O processo de fabricação consistia basicamente no seguinte:

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Modêlo de cachimbo esculpido em
madeira original da Itália
De início moldava-se em barro o modelo de madeira trazido da Itália por Maximiliano Viviani



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Modêlo em madeira
aplicado no gesso
Esse barro recebia um corte lateral horizontal, que permitia a retirada no modelo de madeira. Ficava pois, o molde de barro, em baixo-relevo; derramava-se gesso nesse molde, o que permitia extrair um modelo de pito fundido em gesso

Para receber o gesso, o modelo em barro era amarrado fortemente e envolvido com papelão. Obtinha-se dessa maneira não mais um modelo em baixo-relevo em barro (que não podia receber o chumbo derretido), e sim em gesso.


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Molde de gesso em baixo relevo
no qual eram moldadas as
as formas em chumbo
O mesmo processo era usado para se obter as duas metades em baixo-relevo de gesso.

Com a fôrma do pito moldada em gesso, repetia-se ainda o processo, nela derramando chumbo derretido.

Formava-se assim o molde definitivo, onde se colocava depois barro, chegando-se então ao produto final.

O modelo em chumbo tinha dois orifícios laterais: um deles destinava-se ao cabo do pito; o outro era reservado para a colocação do fumo.


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Modelo em chumbo vendo-se a
peça de madeira chamada: espina
para perfuração do cachimbo
(cabo e fumo) e a espatula de metal
denominada lancheta
Por aqueles dois orifícios eram introduzidas duas peças de madeira pontudas, uma mais larga do que a outra e cuja finalidade, naturalmente, era assegurar as aberturas do pito.

Em italiano essas peças eram designadas pelo nome de "espinas", que não tem correspondente em português.



O MATERIAL PARA A FABRICAÇÃO DE PITOS.

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Cadinho tipo frigideira
A Sorocabana, sem o saber, fornecia muito material para o artesanato dos Viviani.

Restos de chumbo que sobravam dos consertos dos postes da estrada de ferro eram por eles utilizados.

Esse chumbo era derretido num cadinho tipo frigideira, com cabo longo; a seguir, era derramado nas fôrmas.

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Cadinho com as formas em chumbo


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Prensa com as formas de chumbo
O barro usado para fabricação dos pitos era retirado da beira do Tietê (canal velho), região que pertencia à chácara de Manuel Rodrigues (Maneco), sem necessidade de pagamento.

Esse barro era sovado por Maximiliano (que logo recebeu o apelido de "Pipaio", ou seja, "Piteiro"), durante duas horas, com uma barra de ferro. Só então, podia ser colocado na fôrma de chumbo.

o barro era prensado no chumbo por uma prensa manual e primitiva (foto), que ficava presa a uma mesa tipo mesa de sapateiro.

Trabalhavam todos sentados em torno dela.


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Lancheta
Retirado o pito da fôrma, era logo limpo com uma espátula de ferro denominada "lancheta" (para tirar a rebarba). Este era geralmente trabalho das crianças. A "lancheta" tinha uma das extremidades bem fina, para o acabamento do pito; servia para perfurar o orifício por onde passaria a fumaça até o cabo (foto).

Depois dessa operação, os pitos secavam na sombra sobre um tabuleiro durante alguns dias; a seguir, eram expostos ao sol e finalmente levados ao forno.



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imagem 1 ----------------------- forma em gesso com modelo
imagem 2 ----------------------- forma em gesso fechada
imagem 3 ----------------------- modelo esculpido em madeira original italiano


AS CORES NA FABRICAÇÃO DOS PITOS.

Apenas os pitos de cor preta demandavam operações um pouco mais complexas. Para conseguir cor preta, uniforme e brilhante, havia necessidade de esfregar grafite no pito e depois dar brilho com uma escova (de sapato).

Em seguida eram colocados numa lata de querosene, sobre uma camada de serragem; em cima das peças colocava-se nova camada de serragem, até encher a lata.

Esta era então rigorosamente fechada e toda revestida em barro. Ia depois para a forno.

Quando retirada, a lata e a serragem estavam completamente estragadas, mas os pitos saíam brilhantes.

A cor vermelha era obtida mediante simples banho com água e terra vermelha, no pito cozido.

Sem nenhum processo de coloração, os pitos saíam brancos do forno.

OS NOMES DADOS AOS PITOS.

As peças eram batizadas de acordo com a sua forma, daí surgirem vários tipos de pitos.

Os menores recebiam o nome genérico de "pitos caipiras" e podiam ser:

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Pito tipo pé de Galinha
"Pé de Galinha" (porque se mantinham em pé apoiados em três garras de galinha em alto relevo) (foto)


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Pito tipo perigo Amarelo
"Perigo Amarelo" (quando a máscara da frente apresentava uma máscara mongol) (foto)


"Garibaldi" (por apresentar o rosto de Garibaldi).

Os maiores recebiam o nome de cachimbos.

Havia também vários tipos:

"napolitano" quando eram curvos, e "toscanos" quando retos.

O forno onde eram cozidos era de fabricação rústica, feito de tijolo comum, com uma espécie de assoalho furado (de tijolo também) por onde passava o fogo, que ia até em cima do forno saindo muitas vezes pela chaminé.

Esse fogo atuava diretamente sobre as latas e as peças que estavam sobre elas (as que não estavam sendo coloridas).

O forno possuía cerca de 1,30 cm de largura por 2 metros de altura.

O resfriamento das peças eram feitos lentamente, iniciando-se no forno apagado e continuando, depois, fora dele.

PROCESSO DAS VENDAS DOS PITOS.

Estavam então prontos, os pitos, para serem entregues ao mercado consumidor, que era todo o Brasil.

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O próprio Maximiliano os levava para venda no interior paulista, aproveitando a oportunidade para ficar alguns meses espairecendo ...

Oficialmente, porém, as firmas Irmãos del Guerra e Casa Ranieri (rua Florêncio de Abreu, São Paulo) tinham o monopólio da venda do produto no Estado, sendo compradores de toda a produção feita em Osasco.
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Modelos pitos


A DECADÊNCIA

A decadência desse artesanato iniciou-se com o surto da industrialização paulista.

Enquanto não houve concorrência, a produção absorvia toda a família Viviani e era suficiente para o sustento.

Não se mecanizaram e acabaram sendo superados pela indústria similar, que fabricava o mesmo produto mais barato e de melhor qualidade, naturalmente.

Enquanto isso, o sonho de Antônio Agu ia se concretizando.

Osasco se transformava num grande centro industrial, um dos maiores de São Paulo, e a família Viviani, abandonando a antiga e tradicional ocupação, também passou a ver melhores possibilidades nas novas fábricas.

A produção artesanal de pitos foi abandonada, mas deixou bem marcado o traço de sua passagem na vida de Osasco.

Os membros mais jovens da família Viviani passaram a trabalhar nas indústrias nascentes, especialmente na Companhia de Cerâmica de Osasco, onde lidavam com um material conhecido deles - o barro - e em muitas outras que surgiram em Osasco, concretizando o sonho de Antônio Agu, seu fundador, que pretendia forjar aí um centro industrial.

Os jovens membros da família Viviani livram-se do artesanato onde trabalhavam para a família, recebendo apenas casa e comida, porque na indústria recebiam um (ordenado, tinham oportunidade de um convívio mais Íntimo com os companheiros, organizando seu próprio ambiente social e esportivo.

Os velhos artesãos não transmitiram os seus conhecimentos a ninguém.

A arte e a técnica da fabricação dos pitos morreu com eles.

Fonte: pesquisa Hagop Garagem e entrevista com Sr. Américo Viviani