O texto que narra a história desse ilustre personagem foi escrito por sua sobrinha,
Marcia L. Vieira, que presta esta singela homenagem.
As fotos são do acervo da Família Luciano, que cedeu gentilmente para esse registro,
que enriquece a história da nossa querida cidade de Osasco.
Antonio Jose Luciano Vieira |
Antônio José nasceu em Itararé em 23/09/1938, filho de Manoel Luciano de Mello
Vieira (Dr. Nequinha), jornalista, advogado e contador, e de dona Maria de Jesus Lobo
Luciano. Era o segundo filho do total de 10 irmãos.
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Antônio José teve uma boa infância e sua adolescência foi repleta de aventuras e
muitos amigos em Itararé. Era adorador de fotografias e deixou um acervo enorme para
todos nós.
Depois de terminar o curso ginasial, Antônio José, veio para Osasco para morar com
seus tios na antiga Rua 40, atual rua Paulo Lício Rizzo, bairro da Bela Vista por
onde ficou por quase 1 ano.
Foi então estudar no Liceu Coração de Jesus e Eduardo Prado, onde o jovem fez curso
clássico.
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Antonio Jose Luciano Vieira |
Carvalho Pinto institucional |
Luciano, como se tornou conhecido fora de Itararé, ingressou na Faculdade de Direito do Largo
São Francisco com 17 anos.
Em 1961 foi eleito presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto com 21
anos, no ano da renúncia de Jânio Quadros.
Em seguida foi convidado pelo amigo Jorge da Cunha
Lima para assumir a Subchefia da Casa Civil do governo Carvalho Pinto.
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Largo São Francisco Faculdade de Direito |
Certa vez, o querido e saudoso amigo, de codinome Osmar Charrua, me disse:
“Na observação de Chico Elefante, Secretário do XI de Agôsto, histórica instituição, por 4
Décadas, Antônio José foi o melhor presidente daquele Centro Acadêmico.’’
Pensador brilhante, sempre esteve à frente de seu tempo, razão de sua inquietude, questionador
que era dos dogmas da época.
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Antônio José Luciano Vieira presidente do centro acadêmico XI de Agôsto
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Era amante da boa música e da literatura, conhecia na época grandes nomes de escritores,
incluindo os russos, tanto que o cachorro da Família recebeu por ele o nome de Pushkin.
Quando Antônio José vinha de São Paulo era uma festa ímpar, iniciava-se então toda a
movimentação para a preparação na casa do meu avô para recebê-lo.
E ele chegava, sempre com um ou mais discos de Jazz, música clássica entre outros e muitos
livros.Amigos e parentes se deleitavam com as novidades da “Grande Metrópole”.
As reuniões então começavam, era um entre e sai infinito na casa de meu avô Nequinha, muitos
amigos, discussões de política, assuntos do momento na época e saraus.
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Enquanto esteve em Osasco participou da luta pela emancipação da Cidade em 1958, foi um dos
colaboradores mais ferrenho da causa emancipacionista. No dia 17 de setembro de 1959, o jornal
“A Gazeta” de São Paulo, noticiou o comício realizado no dia anterior, no Largo da Estação em
Osasco, citando o ato de protesto realizado pelos estudantes osasquenses, ocasião em que o
acadêmico Antônio José fez uso da palavra para hipotecar sua solidariedade ao movimento pela
autonomia de Osasco.
Todas as ações realizadas pelos estudantes na busca de chamar a atenção para a necessidade de
tornar a emancipação válida eram apoiadas e divulgadas no distrito pelo jornal "A Vanguarda".
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Antonio José conhecia de perto as dificuldades diárias dos osasquenses em relação ao transporte
urbano, pois utilizou o trem e ônibus muitas vezes para estudar no centro de São Paulo. Por isso
ele sabia que se Osasco não fosse independente não teria desenvolvimento urbano e social. Por fim
mudou-se para o centro de São Paulo, de onde não mais saiu.
Em uma manhã de Carnaval em sua cidade Natal Itararé, perdeu a vida em um acidente automobilístico em 27 de fevereiro de 1968 aos 29 anos, assim como um jovem amigo que estava também no automóvel, Ari Pacheco Martins, que ficou em coma por dias e acabou também falecendo deixando os filhos Ari, Amauri e Marcia, além da esposa Adélia. A festa de carnaval foi cancelada.
Foi decretado feriado na cidade. Seu cortejo e a missa de corpo presente foram acompanhados por dezenas de pessoas.
Amigos abatidos pela enorme tristeza discursaram em seu sepultamento para homenagear aquele que fora amigo e irmão de muitos Itarareenses.
Não se faz necessidade afirmar que foi um cataclismo na família. O infortúnio de sua morte fez com que meus avôs, atordoados pela perda, viessem para Osasco onde já morávamos, além também de irmãos de meu avô como o tio Barbosa, tia Fiuca e demais filhos.
Antonio José era um idealista, solidário as dores do mundo, companheiro da justiça, se compadecia com a pobreza de muitos, ajudando-os sem pestanejar, em sua despedida muitas pessoas humildes e andarilhas choraram assim como nós.
Em junho de 1969, aqui em Osasco, foi homenageado com seu nome em uma rua no centro da cidade, assim como em uma rua de Itararé.
Na sala onde tantas vezes trabalhou seu ofício de advogado,em sua memória elevou o Fórum de Itararé a levar seu nome, único no estado a levar nome de um advogado.
O amigo Mauro Vieira me disse certa vez:
“Fui em várias festas no Centro Acadêmico XI de Agosto, Faculdade de Direito do Largo S. Francisco - USP. Uma das salas leva nome de "Antonio José Luciano", homenagem póstuma. Embaixo do nome uma frase: "Jovem de Sensibilidade".
Antonio José vive até hoje na memória da família e amigos.
Quando meu avô enfrentava seu derradeiro ano, tive a dádiva de cuidar e acompanhá-lo, foi a única vez que em uma conversa ele falou sobre o filho.
Perguntei a ele:
- Vô, como era o Antonio José?
Ele por um instante parou, seu olhar caminhou longe, deu um suspiro e me disse:
“Ah filhinha, você não faz ideia dos discursos que ele fazia.”
Texto Marcia L. Vieira
Fotos do acervo Família Luciano